Eu já vivi alguns recomeços. Todos importantes e conscientes. Em comum eles possuem o fato de terem seu start vindo de “fora”. Não foram iniciados por decisão voluntária. Algo relevante e não planejado aconteceu e eu precisei redefinir a rota. Porque passado o luto, ou o inesperado, eu sempre escolhi seguir. E seguir sempre foi a prioridade pra mim. Aliás, ainda é.
Longe de achar (mesmo lá atrás) que “se adaptar” é o único caminho pra recomeçar, foi como dei conta de lidar com aquelas circunstâncias. Conheci, praticando, o poder restaurador da resiliência pra manter a caminhada ativa. Eu assumi as consequências de minhas escolhas com a bagagem de vida que tinha até então e sinto gratidão por tudo. Foram muitos aprendizados em processos que começaram alheios a minha vontade, mas me tocaram a ponto de promoverem transformações internas e profundas.
Transformar-me foi tão bonito quanto necessário e eu sempre soube que precisava passar por dentro pra ser de verdade. As vezes demorava um pouco, mas através desta dinâmica da adaptação fui capaz de ressignificar muitas dores e aceitar a finitude de ciclos importantes pra buscar novos caminhos.
Mas o fato é que o tempo passou e hoje sinto que mereço a chance de recomeçar mais uma vez. Desta vez, com a leveza de ser um movimento voluntário, sem traumas ou cobranças. Porque a maturidade me pede mais do que “deixar seguir” sem revalidar o que é importante e percebi que não preciso manter-me adaptada a qualquer coisa que seja, se – de alguma forma – não fizer mais sentido pra mim.
Amadurecer significa que vivenciamos um pouquinho mais, que já conhecemos alguns destinos, já sabemos o real valor de algumas coisas e o impacto delas em nossas vidas. É aceitar que durante a jornada não foi só a gente que mudou. Quando entendemos isso percebemos que não precisamos e nem devemos aguardar um acontecimento inesperado pra nos permitir recomeçar. Que é possível sim, partir de dentro: se reconhecer, refazer laços, desatar nós. Pra enfim alinhar expectativas, sustentar combinados e investir em planos com propósitos que façam sentido ao coração. Daqueles com tanta verdade que tem poder até pra realizar grandes mudanças também do lado de fora.
Pode parecer utópico e tenho sim, várias dúvidas sobre a maneira mais acertada de colocar esse recomeço em prática. Sigo na busca por conhecimento e diretrizes que viabilizem o desafio. Não me parece um caminho fácil. Nem tão pouco rápido, absoluto ou definitivo. Mas saber que a travessia é sempre mais relevante que a chegada me anima.
Finalmente entendi ser esse o único recomeço justo com a mulher que me tornei: a que merece se reconectar com o que é valioso ao seu coração e se despedir do que limita seu direito de seguir em plenitude.
Muitas perguntas estão por vir. Espero encontrar algumas respostas e uma maneira gentil de dar voz a elas. A única certeza que tenho hoje é que devo acolher com empatia, respeito e honestidade tudo que habita em mim. O que sentimos nos pertence. E sempre será benção quando tomamos posse e acertamos o tom.
Esse despertar me inquieta pois é desconhecido pra mim. Mas também aquece meu coração porque traz junto uma enorme vontade de acertar e todo o amor que carrego no peito pra recomeçar. Desejo que essa jornada resvale de maneira positiva na vida dos que caminham ao meu lado e me são preciosos. Que bons frutos sejam colhidos neste meu recomeço ao contrário.
Que tudo aquilo que for “mexido” aqui dentro faça acontecer algo inesperado (e bonito) aí fora.