DANDO VOZ E VEZ A OUTRAS “QUERÊNCIAS”
Fala, Carol !

DANDO VOZ E VEZ A OUTRAS “QUERÊNCIAS”

Sou capricorniana. Prática, determinada, realista. Sempre soube (ou achei que soubesse) o que queria da vida. E sempre trabalhei com dedicação para alcançar cada um dos meus desejos planejados e organizados em incontáveis planilhas de excel. Fossem eles pessoais ou profissionais meus projetos sempre foram registrados, escritos, datados. Mas em minha ansiedade por “crescer” quase sempre priorizava os objetivos profissionais.

De pequenas demandas a grandes projetos, eu não me permitia relaxardesviar o caminho ou trafegar fora da minha zona de conforto. Rotas desconhecidas e que não se justificassem com a “razão” me deixavam insegura e eu sempre gostei de ter o controle. E assim abri mão de algumas “querências” por me parecerem secundárias, por não serem urgentes ou por eu não saber o que faria com elas caso se realizassem.

A receita sempre me pareceu simples e direta: planeje, trabalhe, realize. Um objetivo por vez. Sempre avante! Perfeito. #sqn. Sou disciplinada e segui mantendo este pensamento. Tudo em minha vida sempre foi planejado com antecedência, nada feito no impulso. Adiava para o futuro os considerados “desvios de rota”.  Era preciso manter o foco. Até que veio a maternidade

A demora para ocupar o tão sofrido colo vazio e a constatação da minha “pequenez” e da total falta de controle sobre a situação me deixaram perdida, vulnerável e mais sensível. Mas me salvaram! Me salvaram de endurecer, de inflar o ego, de não valorizar o que de fato é importante, de não me reconhecer um dia.

E depois que Beatriz e Davi chegaram, a vida me mantem em constante treinamento em verbos que pouco usava antes: “experimentar, improvisar, mudar, adaptar, reavaliar”. E como isso me fez bem! Sim… muito bem. Reconheço que várias das minhas características pessoais são positivas sob diversas situações. Ainda mais em tempos de crise e incertezas. Mas tudo que é extremo demais faz mal. E se a gente não tem válvulas de escape, planos B e pausas criativas, engessamos a vida.

Eu precisava de leveza, de sensibilidade. Leveza pra adaptar o que desejo ao que é possível. Sensibilidade para aceitar que sou um ser plural, que tenho várias outras querências além da maternidade e do trabalho e que também merecem importância e prioridade. E isso só eu posso fazer por mim. Aprendi, na dor, que nem tudo na vida acontece da maneira como sonhamos. E quando mantemos nossos esforços e energia em uma única direção, a gente sofre ainda mais quando não conseguimos.

Nasci em uma família de mulheres fortes, independentes e de personalidade marcante. Comecei carreira cedo e realizei muitos projetos profissionais. Mas “ser mãe” mudou minhas prioridades e o amor incondicional e irrestrito aos meus filhos me fez deixar esta mulher tão pragmática que carrego aqui dentro em “stand by”. Ainda bem.

Foi nesta pausa que eu a redescobri diferente de como a deixei. Troquei de profissão, de visão, de olhar. E sem o acelerar que me envolvia eu consegui olhar pra dentro de mim e me resgatar. Me vi mudando: de opinião, de certezas, de necessidades. Me senti mais pró-ativa, mais criativa, menos estressada, mais feliz. Me descobri mais divertida, agregadora e  paciente. Me percebi gostando de ter tempo também pra cozinhar, pra caminhar no parque e pra escrever.

Por aqui, a maternidade foi o que me fez desacelerar. Mas para a maior parte das mulheres, acontece o contrário. Soma-se a toda a rotina já intensa, novas e grandes responsabilidades. O desconhecido, os medos, a culpa, o cansaço. E não. Ninguém se prepara para o lado difícil desta grande jornada. O amor por um filho é algo realmente divino, mas é um grande equívoco acreditar que ele é suficiente como combustível.

É preciso resgatar a mulher que vive em uma mãe. Dar a ela pausas, atenção, cuidado, prioridade.

Estou aprendendo que “se permitir” não quer dizer se livrar das responsabilidades e demandas práticas da vida. E engana-se quem acredita que isso só é possível quando se tem um grande projeto paralelo ou  segurança financeira. O “respiro” está nos detalhes.

Filhos pequenos e finanças apertadas podem até adiar aquele curso incrível ou a viagem dos sonhos sem as crianças, mas não inviabilizam uma tarde “quase terapêutica” com aquela amiga querida, algumas horas em uma galeria que te emociona ou uma aula experimental que te renove a energia. Se fazer destes momentos solos uma rotina ainda não for possível, que provoquemos com maior frequência “oportunidades” descompromissadas em que sejamos o foco da nossa própria atenção. É restaurador.

As mulheres que mais admiro hoje e me inspiram nesta construção pessoal aprenderam que a vida não é sempre um mar de rosas. Mas elas não enxergam o trabalho como fardo, a falta de tempo como desculpa ou as dificuldades como freios. Elas entenderam que precisam cuidar delas mesmas antes de cuidarem dos outros e escolheram fazer “o melhor que dão conta” com alegria.

Essas grandes mulheres, obviamente, também tem dúvidas, fraquejam e erram. Afinal, são humanas. Mas elas conhecem um caminho muito bonito pra se resgatarem a cada tropeço: o amor próprio.

Que este sentimento tão importante nos fortaleça. E nos permita dar “VOZ e VEZ” a cada uma de nossas tantas outras querências…

Carol Alves

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21 DE SETEMBRO DE 2010 | #COMPARTILHESUASMEMORIAS

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4 Comentários

  1. Oi amor, lindo texto, suas palavras me revelam a mim mesma, estou tentando apreender a fazer apenas o que posso, com alegria e sem nenhum pesar ou culpa pelo que não posso. Amo voce. Parabéns.

    1. Também te amo. Bjos

  2. Parabéns mais uma vez Carol, belíssimo texto!

    1. Obrigada Eldes querida.

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